De volta à Câmara sob vaias e elogios, Aécio evita holofotes
Dragado pela Operação Lava Jato, Aécio perdeu o protagonismo de quem, por 3,5 milhões de votos, não se elegeu presidente da República.
Na segunda semana de trabalhos da Câmara, durante uma das votações, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) entrou sozinho no plenário para marcar presença. Foi surpreendido. O ponto do plenário onde, no passado, ficava a bancada do PSDB hoje é ocupado pelo PSL. “Você sabe onde fica o PSDB agora?”, apelou a um colega.
Para quem frequentou a Casa de 1987 a 2002 e a presidiu por um ano (2001-2002), o ambiente mudou. Dragado pela Operação Lava Jato, Aécio perdeu o protagonismo de quem, por 3,5 milhões de votos, não se elegeu presidente da República.
Agora, a palavra é discrição. Não sem motivos.
Uma semana antes, no dia 1º de fevereiro, o tucano e os outros 512 deputados federais eleitos foram tomar posse. Só ele foi vaiado ao ter o nome anunciado ao microfone.
Aécio votou rapidamente na eleição da Mesa Diretora e disparou pelo salão verde em direção a seu gabinete, escondido no térreo do prédio principal. O ritual se repetiria nas semanas seguintes. São raros os momentos em que o tucano é visto pelos corredores ou mesmo em plenário.
Segundo colegas, ele tem evitado comparecer até a reuniões da bancada tucana na Câmara. Quando decide ir, chega com ela em curso e vai embora antes do fim. Só se manifesta se questionado.
No fim de fevereiro, acompanhado de um dos poucos aliados que se mantiveram próximos, Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), Aécio participou de uma reunião com o secretário especial da Previdência, Rogério Marinho.
Na saída, a imprensa aglomerada na porta correu para entrevistar o representante do governo. Aécio aproveitou a deixa e escapou.
Em maio de 2017, o empresário Joesley Batista, da JBS, o gravou pedindo R$ 2 milhões. A partir dali, as denúncias se somariam, e a estratégia de Aécio foi se manter nos holofotes.
Presidente do PSDB desde 2013, ele se segurou no cargo até o fim de 2017, considerando que a demonstração de força, segundo aliados, seria necessária para evitar uma cassação -e eventual prisão.
Agora, a conduta é outra: manter-se longe do palco.
A mudança de governo também é citada como motivo para a nova fase. Com Michel Temer (MDB), que foi seu sucessor na presidência da Câmara no começo dos anos 2000, o ex-senador tucano tinha bom trânsito.
Temer chegou, por exemplo, a recebê-lo no Palácio do Jaburu para discutir não só os processos de Aécio, mas também questões como a distribuição de ministérios.
Na gestão de Jair Bolsonaro, porém, o tucano não encontra portas abertas. Sem que ele tenha o poder de presidente de sigla para negociar, parlamentares dizem que não haveria por que o governo receber um nome associado a escândalos.
No PSDB, o clima se apaziguou. No mês passado, a executiva comandada pelo paulista Geraldo Alckmin decidiu arquivar um pedido de expulsão do mineiro, em uma espécie de “operação panos quentes”.
Além de Aécio, foram anistiados outros tucanos, como o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, e o ex-governador Alberto Goldman. Depois de uma eleição tão adversa para o partido, procurou-se evitar uma caça às bruxas, justificam tucanos.
A longa trajetória de Aécio lhe reserva não apenas dissabores. Ex-governador de Minas (2003-2010) e ex-senador (2011-2019), o tucano colecionou desafetos, mas também admiradores.