Coren-PB diz que superlotação no Trauma causa aperto entre macas, risco de infecção e lesões em pacientes amarrados
Além de favorecer infecção hospitalar, especificamente a infecção cruzada, passa a impressão de um serviço sem organização e desumano", disse o órgão, no relatório.
O Conselho Regional de Enfermagem da Paraíba (Coren-PB) apontou que a superlotação no Hospital de Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, chega a mais que dobrar na Área Laranja da unidade e que a Urgência da instituição atende a mais que 52,8% da capacidade. A entidade reconheceu que havia higienização do espaço, mas precisou destacar a desorganização no ambiente. “A salubridade demonstrou-se comprometida, devido à proximidade das macas. Além de favorecer infecção hospitalar, especificamente a infecção cruzada, passa a impressão de um serviço sem organização e desumano”, disse o órgão, no relatório.
A nota do Coren-PB foi divulgada na tarde desta terça-feira (14) com base nos dados do Relatório 302/2019, encaminhado em outubro de 2019 para a Promotoria da Saúde (MPPB), Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba (SES-PB) e Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa (SMS-JP). Segundo o órgão, a superlotação compromete a qualidade dos serviços.
No relatório, assinado pelo Enfermeiro Fiscal, Vitor Sergio Alves Ferreira, foi constatado “um número excessivo de pacientes, o que implica na diminuição no número de horas de enfermagem prestadas e consequente comprometimento da privacidade e o conforto” dos internos. Também foi registrado “que a superlotação na Unidade Hospitalar acaba promovendo o uso de contenção mecânica (amarrar pacientes) o que associado a falta de espaço entre as macas favorece a infecção cruzada e lesões por pressão.”
“Na verdade, a situação está instalada no Hospital de Trauma, mas é preciso que se tenha um olhar mais amplo para a Rede de Atenção a Saúde. Porque o Hospital não funciona isolado da UPA, da Unidade Básica de Saúde. É perceptível que acontece uma falha de comunicação entre esses pontos e quando eles ficam fragilizados comprometem a rede como um todo”, avaliou o enfermeiro.
Na nota o Coren-PB destaca que “o serviço de Urgência da Unidade estava funcionando com 52,8% acima de sua capacidade. Já na Área Laranja se observou que apesar do planejamento ser para 20 leitos, existiam 45 pacientes. Ou seja, 225% além da capacidade de atendimento do setor.”
Veja a íntegra da nota
Nota
O Conselho Regional de Enfermagem da Paraíba (Coren PB) vem a público informar que no período de 13 setembro de 2019 a 08 de outubro do mesmo ano realizou Auditoria Operativa no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena (HETSHL), em João Pessoa/PB, buscando aferir a qualidade dos serviços prestados pela enfermagem a população.
Durante a fiscalização a Auditoria constatou um número excessivo de pacientes, o que implica na diminuição no número de horas de enfermagem prestadas e consequente comprometimento da privacidade e o conforto. Outro efeito da superlotação é a ausência de espaço entre as macas, impedindo a equipe de enfermagem de prestar os devidos cuidados. Tudo isso fragiliza o processo de trabalho e compromete a eficiência, eficácia e qualidade do serviço de saúde.
A auditoria constatou ainda que a superlotação na Unidade Hospitalar acaba promovendo o uso de contenção mecânica (amarrar pacientes) o que associado a falta de espaço entre as macas favorece a infecção cruzada e lesões por pressão. A contenção mecânica é um procedimento previsto na legislação do serviço de enfermagem, porém, não deve ser aplicada de maneira rotineira e sem critérios.
Quanto aos idosos que ficam internados no HETSHL a superlotação favorece o distanciamento dos profissionais, devido a alta demanda, além de impedir a presença de familiares para o acompanhamento, causando isolamento social e familiar. Esta situação é pouco respeitosa com os idosos, impossibilitando praticar ações que promovam o bem-estar biopsicossocial e espiritual dos internos.
Verificou-se que o serviço de Urgência da Unidade estava funcionando com 52,8% acima de sua capacidade. Já na Área Laranja se observou que apesar do planejamento ser para 20 leitos, existiam 45 pacientes. Ou seja, 225% além da capacidade de atendimento do setor.
Foram encontrados pacientes sentados nas macas aguardando transferência, exames e outros procedimentos. Muitos pacientes aguardavam por até 4 dias pela manifestação da Regulação para efetivar a transferência para outro serviço.
Tal auditoria resultou no Relatório de Fiscalização 302/2019, disponibilizado no site desta autarquia, que foi devidamente encaminhado à época para Promotoria da Saúde, gerente do Serviço de Enfermagem do HETSHL, Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba e a Secretaria de Saúde de João Pessoa.
Em nota enviada ao ClickPB, às 17h35, o Hospital de Trauma Senador Humberto Lucena comunicou o seguinte:
“Apesar do relatório do Coren trazer dados colhidos em outubro, a direção do Hospital de Trauma, junto com as coordenações de Enfermagem recém empossadas, estão empenhadas a realizar um novo trabalho, focado na qualidade de prestação dos serviços à população.” Informações ClickPB.