Em entrevista à Globo: País ‘não sabe se escuta o ministro ou o presidente’, diz Mandetta
“Precisamos ter uma fala unificada."
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, concedeu, na noite deste domingo (12), entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, a emissora que é tratada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com uma inimiga do governo.
Na entrevista, Mandetta mandou seu mais duro recado ao presidente, que insiste em desmoralizar o apelo do Ministério da Saúde para que as pessoas cumpram isolamento social contra a pandemia. “Precisamos ter uma fala unificada. O brasileiro não sabe se ouve o presidente ou o ministro”, reconheceu Mandetta.
Foi a forma que o ministro encontrou para demonstrar que não tem mais paciência – ele quase se demitiu dias atrás – para continuar lidando com o estado de negação do Planalto e a irresponsabilidade presidencial diante da pandemia.
Na última quinta-feira (9), Bolsonaro foi vaiado ao ir até uma padaria, na Asa Norte, em Brasília. Na sexta (10), tomou nova onda de vaias com panelaço ao passear pelo Sudoeste, antigo reduto bolsonarista na capital federal. Nas imagens, o presidente, além de desrespeitar a quarentena e provocar aglomerações, limpa o nariz com o braço e, na sequência, aperta as mãos de apoiadores.
É esse tipo de comportamento, associado a postagens na internet e seguidas declarações contra o isolamento que boicotam o trabalho de Mandetta e de sua equipe. “Quando você vê a pessoa entrando em padaria… isso é uma coisa totalmente errada”, disse Mandetta à Globo, sem citar Bolsonaro.
A fala do ministro, além de ser um recado direto ao presidente, é a prova mais clara que de que Bolsonaro segue atrapalhando o trabalho do próprio governo. A conta é simples: se os brasileiros seguirem Bolsonaro, mais pessoas irão às ruas e serão expostas ao vírus.
Com uma onda de infectados, o sistema de saúde entrará em colapso e muito mais brasileiros irão morrer por falta de leitos hospitalares. É por isso que Mandetta fala para que as pessoas fiquem em casa.
O presidente, no entanto, é contra essa tática. Considera que o prejuízo econômico é mais importante que o risco de expor os brasileiros ao vírus fatal.
No domingo, dia em que o Brasil chegou à marca de 1.223 mortes por coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, durante uma videoconferência com lideranças religiosas, que o vírus está “indo embora”:
— Temos dois problemas pela frente, lá atrás eu dizia: o vírus e o desemprego. Quarenta dias depois, parece que está começando a ir embora a questão do vírus, mas está chegando e batendo forte o desemprego. Devemos lutar contra essas duas coisas. As informações são da Veja.