Moro diz que não aceita ‘interferência política’ na PF e oficializa demissão
Na entrevista coletiva, Moro fez comparativos entre a postura do atual governo e a do anterior, lembrando que houve autonomia da Polícia Federal durante o governo de Dilma Rousseff (PT).
O ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, agora é também ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Sem a carta branca prometida antes de assumir o cargo, o ex-juiz acumulou no Ministério da Justiça uma sequência de desacertos e recuos. Da última, ele viu o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ser demitido pelo presidente. Um dia antes, ele já havia dito que deixaria o cargo se o subordinado fosse exonerado.
Não deu outra. O Diário Oficial da União (DOU) publicou a exoneração de Valeixo durante a madrugada desta sexta-feira (24). As informações de bastidores dão conta de que o presidente queria para o cargo um nome da confiança dele. A decisão surge no momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a investigação dos movimentos antidemocráticos ocorridos no fim de semana, com a participação, inclusive, do presidente. Vários dos manifestantes pediam o fechamento do STF e do Congresso e um novo AI5.
Na entrevista coletiva, Moro fez comparativos entre a postura do atual governo e a do anterior, lembrando que houve autonomia da Polícia Federal durante o governo de Dilma Rousseff (PT). Fez a ressalva, no entanto, cos casos de corrupção denunciados na época. Ele também fez um balanço das ações da gestão dele à frente do Ministério. O tom adotando, vez por outra, foi de emoção, com a voz embargada vez por outra. Ele negou que tenha feito exigências para aceitar o cargo.
Moro justificou a saída com o argumento de desconforto por causa de interferências políticas na Polícia Federal. Elas não parariam na mudança do diretor-geral e incluiriam também a substituição de superintendentes. “Eu falei ontem com o presidente e disse que seria interferência política e ele disse que seria isso mesmo”, afirmou, voltando a alegar o mesmo não ocorreu durante o governo anterior. Disse ainda que o presidente queria alguém da relação dele, para poder ligar e ter informações de inteligência.
O nome mais cotado para o comando da PF é Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Essa não é a primeira vez que Bolsonaro faz movimento para a demissão de Valeixo. A primeira ocorreu em agosto do ano passado, quando houve estremecimento entre Bolsonaro e Moro. Na época, o presidente recusou e o diretor-geral da Polícia Federal foi mantido.
A saída de Moro é a segunda de grande repercussão no governo em um único mês. A outra foi do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O gestor vinha sofrendo desgastes na relação com o presidente, por causa das ações direcionadas ao combate aos efeitos do novo Coronavírus. O presidente discordava do ponto de vista do ministro, que defendia o isolamento social para achatar a curva de crescimento da pandemia. O presidente, por outro lado, defendia a abertura do comércio. A exoneração ocorreu na semana passada.