Bolsonaro diz que fake news fazem parte da vida após editar MP que dificulta combate à desinformação
"Fake news faz parte da nossa vida. Quem nunca contou uma mentirinha para a namorada?“
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) — Sem citar diretamente a medida provisória que limita a remoção de contas e perfis das redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que fake news fazem parte da vida e comparou o tema a uma “mentirinha” contada para uma namorada.
“Fake news faz parte da nossa vida. Quem nunca contou uma mentirinha para a namorada? Se não contasse, a noite não ia acabar bem”, disse Bolsonaro nesta terça-feira (14) durante cerimônia no Palácio do Planalto.
“Muitas vezes erramos, quem nunca errou, né, no palavreado? Às vezes custa caro para a gente. Mas é melhor viver assim, como a imprensa, melhor viver assim, em liberdade, do que não ter liberdade”, disse no mesmo discurso.
Em outro momento, o presidente afirmou que não é necessário regular o tema das fake news. “Fake news é quase que nem um apelido, cai por si só. Não precisamos de regular isso aí.”
“Deixemos o povo à vontade. Obviamente, quando se vai para pedofilia e outras coisas, não tem cabimento. Isso não é fake news, é crime”, continuou.
Na noite desta terça, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), decidiu devolver ao governo à medida provisória.
Uma semana depois de ter liderado atos de raiz golpista no 7 de Setembro e dias após ter divulgado nota retórica em que abaixa o tom com os demais Poderes, Bolsonaro promoveu cerimônia no Planalto na qual distribuiu homenagens a parlamentares e a um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
Bolsonaro usou o evento, que teve a participação dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, além do ministro do STF Dias Toffoli, para afirmar que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário são “um só corpo” e que o “bom entendimento” dos Poderes é a “alegria do nosso povo”.
“Nosso governo conversa com todo mundo. Esse prêmio, esse simples troféu, é um reconhecimento a todos vocês pela colaboração com o governo e com o Brasil. O que seria do Executivo sem o Senado, sem a Câmara, e também, por que não dizer, em muitos momentos sem o STF? Nós somos um só corpo. O nosso bom entendimento, [é a] alegria do nosso povo”, declarou.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, entregaram troféus do prêmio Marechal Rondon das Comunicações para dezenas de autoridades.
Além de Toffoli e dos chefes do Legislativo, foram agraciados Bolsonaro, dirigentes de empresas públicas do governo, ministros, deputados, senadores e integrantes do TCU (Tribunal de Contas da União).
O prêmio é organizado pelo Ministério das Comunicações. Entre os senadores, receberam o troféu Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do mandatário, e Davi Alcolumbre (DEM-AP), que como presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) tem bloqueado a indicação de André Mendonça para uma vaga no STF.
Os afagos de Bolsonaro ao Parlamento e ao Supremo ocorrem após uma reviravolta na retórica do presidente.
Em 7 de Setembro, diante de milhares de apoiadores em Brasília, o presidente fez um discurso de ameaças golpistas ao STF . Ele disse que não aceitará que qualquer autoridade tome medidas ou assine sentenças fora das quatro linhas da Constituição.
“Ou o chefe desse Poder enquadra o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos”, disse Bolsonaro na ocasião, em recado ao presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, em referência às recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes contra bolsonaristas.
“Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil”, continuou.
As falas com teor golpista de Bolsonaro geraram reação de Fuz, presidente do STF. Em um duro discurso, ele afirmou que ameaça do mandatário de descumprir decisões judiciais do ministro Alexandre de Moraes, se confirmada, configura “crime de responsabilidade”.
Lira também se manifestou após o 7 de Setembro. Elevou o tom de crítica ao presidente, falou em “basta”, mas enviou sinais de tentativa de apaziguamento e não mencionou impeachment -há mais de cem pedidos para isso na Casa.
Dias depois das manifestações e diante de críticas de que a retórica incendiária do governo estava contaminando indicadores econômicos, Bolsonaro recuou.
Em 9 de setembro, o mandatário divulgou uma nota na qual afirmou que não teve “nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes” e atribuiu palavras “contundentes” anteriores ao “calor do momento”.
“Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”, disse o presidente, na declaração.