Pena de morte na Paraíba? Especialista analisa onda de violência em 2023
O que pode explicar esse aumento?
O início de 2023 é marcado pelo aumento na quantidade de mortes violentas em João Pessoa e na Região Metropolitana. Para se ter uma ideia, somente entre este sábado (21) e domingo (22), dez pessoas foram vítimas de homicídio na capital paraibana e cidades vizinhas. O que pode explicar esse aumento?
A pena de morte é proibida no Brasil. Mas essa tem sido uma prática frequentemente atribuída a mortes violentas que envolvem pessoas com alguma relação com a criminalidade. Essa associação, porém, não deve ser reproduzida. De acordo com a professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e especialista em Segurança Pública Luziana Ramalho, tentar explicar a onda de violência como fruto de relações com infrações é um “absurdo”.
Ao Portal T5, a especialista Luziana Ramalho disse que a violência é uma característica estrutural da cultura brasileira e, por isso, “não há como responsabilizar um grupo estrito ou mesmo o Estado pela reprodução e escalada da violência”. Mas, segundo ela, há alguns fatores que contribuem para esse cenário, entre eles a naturalização da violência nos meios de comunicação e a discriminação.
Para Luziana, nunca é demais ratificar a relação entre raça/etnia, lugar de origem, nível de escolaridade, gênero e idade das vítimas. “Institutos como Mapa e Atlas da Violência, dentre outros, escancaram o enquadramento dos que são vitimados neste país. Aqui na Paraíba não é diferente”.
Ainda segundo a especialista, os meios de comunicação, em especial os que investem no “entretenimento” que supervaloriza e naturaliza a violência, também têm responsabilidade na escalada de crimes violentos letais na Grande de João Pessoa.“Devemos repensar nossos padrões éticos e estéticos; e realizar, de fato, padrões e políticas de sociabilidade onde o princípio da humanidade seja norteador”.
Diante dessa onda de violência, Luziana destaca que não há fórmula mágica, e nem curto ou médio prazo, que possam reverter esse quadro. Mas ela pontua que só é possível mudar a mentalidade da sociedade com conhecimento e possibilidade de ascensão social.
“Se de fato nos basearmos nos princípios éticos e estéticos propostos em nossa Constituição Federal, podemos construir um novo paradigma”, diz ela. “Garantido dignidade, direitos de educação, saúde, formação profissional, habitação, mobilidade urbana e social, geração de emprego e renda, cultura, segurança pública, respeito à diversidade e diferenças”.
Para Luziana, garantir esses direitos é “nossa única saída para a grave crise societária que vivemos”.
T5