Combatendo fogo com querosene, Bolsonaro chama manifestantes de “idiotas úteis”
A incontinência verbal do gestor conseguiu ser mais desastrosa do que a do ministro da Educação, Abraham Weintraub.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) conseguiu, nesta quarta-feira (15), extrapolar todos os limites da coerência que deveria cercar o ocupante do cargo exercido por ele. Ao ser questionado sobre os protestos em prol da educação no Brasil, no desembarque em Dallas, nos Estados Unidos, chamou os manifestantes de “uns idiotas úteis, uns imbecis”. A incontinência verbal do gestor conseguiu ser mais desastrosa do que a do ministro da Educação, Abraham Weintraub, para justificar os cortes nos repasses de verbas para as universidades, institutos federais e educação básica. Pior que ameaçar punir universidade que fazem “balbúrdia”.
Bolsonaro viajou nesta terça-feira (14) para o Texas, onde será homenageado pela Câmara do Comércio Brasil/Estados Unidos. O prêmio seria entregue em Nova Iorque, inicialmente, mas foi transferido para Dallas após recusa do Museu de História Natural da cidade e protestos do prefeito Bill de Blasio. Nos Estados Unidos, Bolsonaro se encontrará com o ex-presidente George W. Bush. Enquanto está em viagem, auxiliares do governo temem a crescente das manifestações. Alguns deles revelaram ao jornalista Gerson Camarotti, da Globo News, o sentimento de que o governo tem errado no tratamento de temas polêmicos.
A preocupação, porém, parece não preocupar o presidente. Um dia depois de sofrer uma derrota humilhante na Câmara dos Deputados, com a convocação do ministro Abraham Weintraub por 307 votos a 82, Bolsonaro elevou o tom contra os protestos de professores e estudantes. “É natural, é natural. Agora… a maioria ali é militante. É militante. Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7 x 8 não sabe. Se perguntar a fórmula da água, não sabe. Não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo utilizados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais do Brasil”, afirmou.
Enquanto exala inabilidade para tratar as questões de governo, o vice-presidente Hamilton Mourão ganha holofotes no sentido contrário. O presidente interino disse nesta quarta-feira (15) que o governo tem falhado ao se comunicar sobre os cortes no orçamento da Educação e que a ida do ministro ao Congresso é uma oportunidade para esclarecimentos. “Nós temos falhado na nossa comunicação e agora é uma oportunidade lá dentro do Congresso que o ministro vai ter para explicar isso tudo”, disse Mourão, que assumiu a presidência na noite de terça (14), após viagem do presidente Jair Bolsonaro aos EUA.
Sobre os cortes
“Não existem cortes. Nós temos um problema que… Eu peguei um Brasil destruído economicamente também. Então as arrecadações não eram aquelas previstas de quem fez o orçamento no corrente ano e se não houver contingenciamento, eu simplesmente entro de encontro, né, à lei de responsabilidade fiscal? Então, este mês não tem dinheiro. É o que qualquer um faz. Não tem, tem que contingenciar. Agora gostaria que nada fosse contingenciado. Gostaria, em especial, educação.”
A programação de Bolsonaro em Dallas prevê compromissos na quarta (15) e na quinta-feira (16), com chegada a Brasília na sexta-feira (17). O vice-presidente Hamilton Mourão assumirá a Presidência até a tarde de quinta, quando viajará para o exterior. Mourão embarcará para uma viagem ao Líbano, à China e à Itália.
Informações: Suetoni Souto Maior