Reta final da campanha poderá ser muito tensa
Como serão as quatro últimas semanas da campanha para presidente da República partindo-se da permissão que cada candidato terá muito pouco a pescar no mar de eleitores já praticamente convictos da escolha?
Contextualizando de forma mais minuciosa, o quadro revelado pela pesquisa BTG-FSB, divulgada nesta segunda-feira, mostra que poucos eleitores de Lula (PT) e Bolsonaro (PSB) estão dispostos a mudar de opção. Na verdade, 87% afirmam que já fizeram a escolha definitiva.
Não existem precedentes. Quase 90% dos votos dos dois principais concorrentes à presidência da República estão cristalizados. Dificilmente um vai tirar voto do outro até o dia da votação.
É verdade que existe uma movimentação no universo dos chamados candidatos da terceira via. Os índices de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) oscilaram para cima depois do início da campanha do rádio e na televisão, mas nada que indique que qualquer um dos dois ameaça chegar aos 30 pontos percentuais para entrar na disputa por uma vaga no segundo turno. Ciro está ali nos 8%, Tebet nos 5% e os demais candidatos juntos, somados, não passam dos 3%. Interessante que são os eleitores que mais admitem mudar de opção.
Diante deste quadro, que é a imagem retratada pela maioria das pesquisas, qualquer avaliação vai indicar que, apesar de ainda restar muito tempo para o fim da campanha eleitoral, uma possível mudança se apresenta muito remota.
A fixação antecipada de intenção de voto teria tudo para tornar meio monótona a reta final da campanha. Mas não é o panorama que se vislumbra. Os elementos que se apresentam indicam, ao contrário, que as últimas semanas da campanha eleitoral nacional podem ser muito tensas.
Começa com o 7 de setembro, ainda esta semana, que será novamente marcado por manifestações convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Pode ser que os atos sirvam tão somente para energizar a militância para catar voto com mais entusiasmo nos próximos dias. Pode, entanto, servir de apoio para novos ataques do presidente ao TSE e a ministros superiores e retornar o clima de ameaça às eleições.
Do outro lado, é possível se imaginar que a oposição vai tentar convocar a militância para se mobilizar na busca do voto útil, visando encerrar a disputa no primeiro turno, o que é muito difícil, mas nada impede a mobilização.
Por tudo, não há também como não imaginar que a reta final da campanha seja marcada pela violência política. Afinal, ocorrências em situações de polarização aqui, na Argentina e em outras partes do mundo indicam claramente que seguidores de correntes radicalizadas não se contentam com a força dos argumentos na disputa democrática. Melhor evitar uma discussão mais acalorada.
Por Josival Pereira